Fonte:G1
Animal enterrado vivo ganhou lar e cinco novos amigos.
Profissional ficou assustada com assédio da imprensa.
A veterinária Viviane Cristina da Silva, “mãe adotiva” do filhote vira-lata Titã, símbolo nacional de superação a maus tratos depois de ficar enterrado por 12 horas no quintal de uma casa em dezembro do ano passado, em Novo Horizonte, no interior de São Paulo, falou ao G1 Rio Preto e Araçatuba sobre a recuperação do animal. A profissional ficou assustada com o assédio da imprensa. O novo integrante da família Silva mora com três cadelas e um gato.
Titã está cada vez melhor e virou o guardião da clínica veterinária. “Ele e outra cadela me acompanham para o trabalho”, disse Viviane. A situação estava muito grave quando Titã chegou pela primeira vez ao local. “Recebi o cachorro e entrei em choque ao saber o que tinha passado. Fizemos os primeiros atendimentos e escutei que o animal iria para o abrigo da cidade caso ninguém queria adotá-lo. Lá, fatalmente ele não aguentaria. Foi quando me encontrei com o pessoal da ONG Protetora dos Animais de Novo Horizonte e decidimos manter o cachorro aqui na clínica”, disse Viviane.
Pouco mais de um mês em tratamento, Titã superou a todos os procedimentos com firmeza. Uma transfusão de sangue foi fundamental para a recuperação começar a acontecer. “Entramos com a cara e com a coragem para conseguir recuperá-lo. Antes, cada exame que a gente fazia desanimava mais ainda. O estado dele era muito grave. Repetimos vários hemogramas e foi inevitável a transfusão de sangue”, informou.
O otimismo deu as caras e reconquistou o sorriso na veterinária. “Não esperava, mas o que aconteceu com o Titã é que ele se tornou um símbolo de maus tratos. Além de passar por tudo isso, resistiu de uma maneira inacreditável, lutou mesmo para sobreviver. Na hora que chegou na clínica chorei muito. Falava com ele o tempo todo para ser forte. Acho que me ouviu”, contou emocionada.
As duas primeiras semanas que Titã entrou na vida da veterinária não foram fáceis. A profissional declarou que ficou apavorada com a repercussão na imprensa. “Foi assustador. No começo não sabia lidar com isso. Às vezes parecia que a imprensa estava invadindo a minha privacidade. Depois percebi que devia informações em respeito às pessoas preocupadas com Titã. Não tinha como esconder o estado do animal, sendo que todos torciam pela recuperação da saúde dele. Tive que me acostumar”. Hoje, ela brinca. “Nunca arrumei tanto amigo jornalista em um mês. Aliás, não tinha nenhum”.
Sobre a fama que conquistou com a divulgação do caso, Viviane não se deslumbra. “Vi alguns comentários na internet. Não me considero uma heroína, ou merecedora de algum mérito, vejo isso como sendo a minha obrigação. A partir do momento que escolhi essa profissão, abraço qualquer causa e faço tudo ao meu alcance para salvar a vida de um animal”, enfatizou.
E a paixão pelos bichos não é recente. A decisão de se tornar uma profissional vem de muito cedo. Formada há 4 anos, Viviane diz ter nascido com o desejo de cuidar dos animais. “Uma história que meus pais contam é que aos 4 anos, eu já falava que queria ser veterinária. Eles diziam que viraria uma. Um dia cheguei para a minha mãe e perguntei o que era uma veterinária? Minha mãe explicou que era o médico dos animais. Daí, eu concordei. Mas coloquei uma condição, que todos os animais que cuidasse seriam meus. Uma utopia, infelizmente não é possível fazer isso, mas, com alguns eu consegui, tenho seis e estou muito feliz”, relembrou.
Adoção
Viviane revelou que foi Titã que a escolheu para viver. “O tempo todo o pessoal vinha perguntando se tinha alguém para adotá-lo. A fila era grande. Na verdade eu não estava interessada em ficar com o cachorro, embora já tivesse muito carinho. Foi o Titã que me escolheu. Um dia na minha casa quando tentei tirar uma foto, ele subiu no meu colo e lambeu o meu nariz. Então, olhei e disse: tá bom, eu te aceito. Daí em diante ele ficou comigo”.
Na casa da veterinária, Titã já se sente bem ao lado dos novos amigos Luid, o gato, e das cadelas Cacau, Leona e Zara. “Todas as histórias são marcantes. A primeira que adotei estava na faculdade. Foi uma filhote abandonada na sarjeta com uma pata fraturada. O segundo eu decidi adotar um cachorro que estivesse morrendo quando fosse abrir minha clínica. Me ligaram e fui ver um animal em estado parecido com o do Titã. Levei para casa e hoje é uma vira-lata linda. Recentemente peguei uma poodle doada pela proprietária. Ela veio com uma pele em estado ruim, mas bem alimentada. A dona não tinha condições de tratá-la mais", explicou.
Já os gatos foram abandonados na porta da casa da profissional. “Não estavam maltratados, mas o abandono já é uma covardia. Mia fica na clínica e, Luid, em casa”, contou.
“Uma coisa que queria para 2012 é que a gente aprendesse um pouquinho com esses, que chamamos de irracional. Para um dia a gente olhar bem no fundo dos olhos deles e não ter vergonha de ser um ser humano”, disse.
Recuperação de Titã
A cicatrização na córnea do olho direito de Titã foi uma surpresa para o oftalmologista Lucas Cossi. “Para mim, na parte oftalmológica, superou as expectativas do olho direito. Acabou cicatrizando sem muitas explicações. Ele é um guerreiro e virou símbolo de como querer viver e lutar contra todos os problemas que atingiram a vida dele”.
Sobre a lesão, Cossi disse que o próprio animal pode ter agravado o local. “O cão pode ter se coçado. É isso que pode ter progredido a ponto de furar o olho direito. Depois de mais um mês, a córnea cicatrizou, uma coisa difícil de acontecer, e não será mais preciso qualquer procedimento cirúrgico. A terra nos olhos incomodou e ele pode ter agravado. O olho direito ainda tem uma visão de 20%, mas enxerga apenas vultos. Já o olho esquerdo está normal”, concluiu.